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O meu cancro.

Estou aqui para vos falar sobre o meu cancro, sim... O meu cancro. Cada caso é um caso e eu estou aqui para partilhar com vocês a histório do meu cancro.

O meu cancro.

Estou aqui para vos falar sobre o meu cancro, sim... O meu cancro. Cada caso é um caso e eu estou aqui para partilhar com vocês a histório do meu cancro.

Cabelo.

15
Out19

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Cabelo devia ser só cabelo... Mas na realidade não. Já paraste 5 minutos da tua vida para te colocares na pele de todas as pessoas que já passaram e que estão a passar por isto? Pois, eu todos os dias penso em pessoas como eu. Não tenho pena, tenho compaixão. A pior coisa que podem sentir por nós é pena. Nós não somos nenhuns coitados... Nós somos uns sortudos porque nos tornamos em pessoas melhores. Eu tornei-me uma pessoa melhor. Mas voltando ao cabelo...

Após a última sessão de quimioterapia, a enfermeira tinha me dito que o cabelo iria começar a cair e que o mais normal seria 2 a 3 dias antes da segunda sessão de quimioterapia. Por um lado descansou-me porque ainda iria ter tempo com o meu cabelo. Mas no fundo haviam atitudes minhas que mostravam medo. Posso numerar algumas como: estava sempre a mexer no cabelo, sempre que tomava banho e punha amaciador reparava na quantidade de cabelos que caiam para ver se era só o normal, todos os dias quando acordava a primeira coisa que fazia era por a mão na cabeça para ver se estava lá o meu cabelo todo. Era um pouco ridículo, mas no fundo eu tinha medo de ficar sem ele.

Até que um dia, acordei e vi que não estava com queda de cabelo. Então era mais um dia tranquilo para mim. Fui tomar banho para sair de casa. Comecei a lavar o cabelo e o meu mundo desmoronou-se naquele momento. Comecei a ficar com o chamado "ninho de ratos" pela cabeça toda. Comecei a entrar em pânico. Quando algo assim acontece, ao qual ninguém te prepara para uma brutalidade destas... Tu não sabes mesmo o que fazer e sentes-te perdido e sozinho. Foi como me senti. Sozinha. Ainda achei por bem por amaciador no cabelo para ver se aquilo era só impressão minha e se o cabelo ficava direito. Não aconteceu e o pior começou. Era só cabelo a cair. Cada vez que lhe punha a mão vinha uma bola de cabelos. Não sei dizer quanto tempo é que estive lá dentro naquilo, mas para mim foram horas. Eu ainda hoje não sei de onde vinha tanto cabelo. Percebi que se eu continuasse ali a puxar os cabelos, ia ficar careca ali. Então parei e achei melhor por a toalha na cabeça. Pelo menos não caía mais cabelo. Pode ser fútil para vocês, mas para mim... Foi dos piores momentos que já passei na vida. Dos momentos mais duros... Eu não respirava, só chorava e soluçava mesmo. Acho que cheguei a um ponto em que eu já não tinha mais lágrimas. Eu não estava sozinha em casa, estava lá o meu namorado. E eu tinha que sair do banho e chegar ao quarto sem que ele me visse. E na realidade não viu.

Cheguei ao quarto e só para verem bem o meu estado de espírito... Vesti umas calças de fato de treino e uma sweat. Chegava o momento de tirar a toalha do cabelo... E o meu único pensamento foi: "Quando eu tirar a toalha, o cabelo vai estar bem e não vai ser preciso rapá-lo já."... Era mentira. Quando tirei a toalha, além de a toalha estar cheia de cabelos, continuava com o cabelo cheio de ninhos de ratos... Todo embaraçado, não lhe conseguia passar os dedos sequer. Não podia sair de casa naquele estado, tinha que o pentear... Mais um sufoco, mais uma choradeira, mais uma dor insuportável. A primeira vez que lhe ponho a escova posso dizer que não se via a escova com tantos cabelos. E passei uma, duas, três... Cada vez chorava mais. O meu namorado ouviu e veio abraçar-me. Sem dizer nada. O que restou do meu cabelo estava minimamente... Então não lhe mexi mais. Saí de casa e liguei à minha irmã... Ela tinha que me rapar o cabelo naquele dia. Tinha mesmo que ser. 

Ela não acreditava que eu estava a ficar sem cabelo literalmente. Achou que eu estava a exagerar. Quem me conhece sabe que o meu cabelo era volumoso e grosso. Pois quando cheguei ao salão da minha irmã e ela viu o meu cabelo fino e praticamente colado à cabeça, foi quando percebeu que eu não estava de todo a exagerar. Eu estava com imensas peladas e a parte boa é que estavam todas escondidas. Então ela pegou na máquina para começar a rapar. Pensei que ia ser outra vez um sufoco, mas não. Foi tranquilo. Acho que já tinha chorado tudo. Não havia mais nada para chorar. 

(A imagem foi tirada no dia em que rapei o cabelo.)

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